quarta-feira, 23 de junho de 2010

O lançamento

A cena ocorre em um átimo. Com as duas mãos no volante, você engata a próxima marcha, percebe um leve ruído provocado pela embreagem dupla e, então, ocorre uma mini explosão ao pisar no acelerador. Tudo seguido da enorme satisfação e da certeza de estar a bordo de uma supermáquina. O melhor é que essa seqüência é repetida infinitas vezes, sem diminuir o prazer. Assim é a novíssima Ferrari California.

Mas apesar da sua origem, essa máquina apresenta muitas concessões à utilização “civil”, mas não menos inovadoras), como a capota retrátil de alumínio com duas dobras, o motor V8 instalado na dianteira pela primeira vez na história da fábrica, o câmbio semi-automático com dupla embreagem e a suspensão traseira multilink. E mais: opcionalmente, a Casa de Maranello oferece duas cadeirinhas para crianças com fixação Isofix. Numa Ferrari, quem diria!

Calma, antes de amaldiçoar a heresia, vale a pena saber mais sobre a nova atração da marca do cavalinho rampante.

Ao contrário da F430 Spider, a California é um misto de cupê Grand Turismo e conversível. Um modelo que não possui sucessor direto e, mesmo antes do seu lançamento oficial (no Salão de Paris, em outubro de 2008) tinha toda a sua produção vendida até 2010. O preço inicial é 176 200 euros, ou seja, uma bela renda para a Ferrari.



Então, a California já pode ser considerada um sucesso? Talvez seja cedo demais para responder, devido ao desenho de sua traseira que não é consenso entre os aficcionados,além do teto retrátil e de seus assentos extras.

A capota, aliás, pode contar com um sistema engenhoso, é verdade, mas apresenta alguns incovenientes: com ela instalada, a visão pelo vidro traseiro é extremamente reduzida, um problema comum aos conversíveis. O processo para instalar ou recolher a cobertura leva cerca de 15s.

O porta-malas pode ser considerado generoso, com 340 litros de capacidade, mas apenas quando o teto está instalado. O acabamento é de muito bom gosto, seguindo o padrão do revestimento do habitáculo. Os cantos do compartimento são baixos, favorecendo o acesso e a acomodação das bagagens. Contudo, quando a capota é recolhida, o espaço ali encolhe para cerca de 100 litros, espaço suficiente para acomodar duas mochilas, e olhe lá.

A California, a “Ferrari-familiar”, brilha imponente com seus 4563mm de comprimento, mas isso não deve alimentar esperanças sobre a generosidade de seu espaço interno. No banco traseiro, um adolescente se acomodará com dificuldade, apenas duas crianças podem ficar confortáveis.

O motorista/piloto, por sua vez, certamente se sentirá tranqüilo após os primeiros metros percorridos. Ele não deve esquecer, porém, que esse cupê-conversível é uma legítima Ferrari. Ela é toda desempenho e exige fervor, esforço e muita concentração ao volante. Dá para dizer que, apesar da configuração 2+2, o comportamento da California não é muito distante do apresentado pela 430 Spider.

Como é de se esperar, o motor V8 de 4.3 l emite uma trilha sonora encantadora. Um som forte e encorpado, com alma esportiva, que não incomoda mesmo em al¬tos giros. Pelo contrário. Quando o teto está instalado, percebe-se a atenção que a fábrica teve com relação ao conforto.

A ergonomia, como sempre, é perfeita. Todos os comandos são fáceis de se operar e estão dispostos próximos ao volante, com destaque para os dois mais importantes: o botão Start/Stop e o manettino, dispositivo oriundo das pistas e pelo qual se pode selecionar o comportamento do carro. Ao contrário da F430, que possui cinco opções, a California conta com apenas três: Comfort, Sport e Off. Neste, o controle de estabilidade é desligado (recomendado apenas para as pistas).

Independentemente da posição do seletor, todavia, a eficiência da suspensão é facilmente percebida, mesmo por condutores menos experientes.

Ainda assim, quando se passa da opção Comfort para a Sport, a California apresenta uma mudança clara em seu comportamento, proporcionando ainda mais estabilidade nas curvas e um desempenho superior. O carro assume uma personalidade mais agressiva, que incita o condutor a pisar mais forte no acelerador. A suspensão torna-se mais rígida e as respostas do motor e do volante ganham agilidade.

Isso, por outro lado, não significa que ao se optar pelo modo mais civilizado (posição Comfort), a California se transforme em um carro lento. A diferença é que, com o manettino nessa posição, o modelo proporciona muita suavidade ao rodar. Ainda mais se o câmbio automatizado de 7 marchas estiver selecionado em automático. O veículo ainda conta com o controle eletrônico de tração F1 Trac e freios com discos carbono-cerâmicos.

Com tudo isso, a California reúne o conhecido comportamento esportivo dos carros de Maranello com um inédito padrão de conforto, mesmo para o uso familiar.E o melhor, sem abrir mão da exclusividade e da tradição.

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